Desde o início da vida, cada experiência que vivemos vai moldando o modo como nos relacionamos com os outros e com o mundo. Quando somos bebés e crianças, desenvolvemos uma série de estratégias de sobrevivência emocional para responder às situações que enfrentamos — sejam elas favoráveis ou desafiantes. Embora na altura essas estratégias sejam muitas vezes necessárias para nos proteger, quando usadas de forma repetida e inconsciente, podem tornar-se na nossa única forma de reagir, e mais tarde, na vida adulta, podem tornar-se padrões comportamentais rígidos que já não nos servem. Há uma expressão que diz que nem tudo é um prego, por isso é bom que tenhamos na nossa caixa de ferramentas mais do que um martelo para enfrentar a nossa vida!
Na abordagem Bodynamic® relacionamos as várias fases de desenvolvimento com estruturas de caráter, que são uma espécie de código base de impulsos e comportamentos. Podemos ter um código mais fechado e com menos opções, ou seja, só sabemos reagir de uma forma, ou podemos ter um código mais aberto e ter mais liberdade na forma como nos relacionamos com os outros e como lidamos com os acontecimentos na nossa vida.
Por exemplo, a fase da autonomia, entre os 8 meses e o ano e meio, emerge quando uma criança começa a descobrir a sua curiosidade, a ganhar as primeiras liberdades para explorar o mundo à sua volta e a seguir os seus impulsos. Se os cuidadores incentivam essa exploração e respeitam a curiosidade e a iniciativa da criança, ela sente-se segura para experimentar. Mas, se há resistência ou crítica a essa independência, a criança pode começar a conter-se, temendo falhar ou ser julgada. Como adultos, esta defesa aprendida vai manifestar-se ou como uma tendência para hesitar antes de agir, para depender de aprovação externa antes de tomar uma decisão ou até para se sentir paralisado perante tudo o que é novo. A defesa que serviu para a criança se proteger transforma-se numa limitação para o adulto.
Um pouco depois chega a fase da vontade, dos 2 aos 4 anos, quando a criança procura afirmar-se e testar os seus limites. Se os cuidadores respeitam esse impulso e oferecem um espaço onde a vontade da criança é aceite, ela aprende a confiar na sua capacidade de escolha e decisão. No entanto, se essa expressão é constantemente reprimida, o adulto pode crescer a sentir que os seus desejos são irrelevantes ou que não merece lutar pelos seus objetivos. A defesa original de desistir em vez de se afirmar continua a bloquear o potencial de realização e autoafirmação.
Na psicoterapia corporal, trabalhamos com estes processos não apenas de forma cognitiva, mas também ao nível físico, através dos vários músculos que estão associados a cada fase de desenvolvimento. Por exemplo, nos músculos que envolvem a expressão de autonomia e a afirmação da vontade, promovemos uma experiência onde o cliente pode sentir, no corpo, os padrões que foram construídos e, gradualmente, encontrar uma forma mais integrada de lidar com eles. Este trabalho físico facilita um processo de transformação consciente e sustentada, criando um equilíbrio entre a consciência mental e a experiência corporal.
Como em todos os processos psicoterapêuticos nada acontece de um dia para o outro, é preciso abraçar o que as nossas defesas fizeram por nós, e gentilmente conduzir num caminho de novas possibilidades, onde há muito mais recursos ao nosso dispor. É um caminho que conduz à mudança e nos ensina muito sobre nós e desenvolve sem dúvida o sentido de autoestima.