Atualmente, quase todas as pessoas que chegam ao meu consultório apresentam sintomas crónicos de ansiedade, e por detrás dessa ansiedade estão os medos que não se veem. O medo é uma resposta natural e adaptativa a algo que nos ameaça, e embora possa estar associada a medos concretos (perder o emprego ou enfrentar uma situação social desafiadora), a ansiedade vai mais além. A ansiedade é uma resposta emocional complexa, surge de uma visão subjetiva e muitas vezes enraizada na nossa história pessoal e nas experiências emocionais que vivemos desde cedo.
Dependendo de como processamos essas experiências, o medo transforma-se numa sensação contínua de insegurança que se espalha para outras áreas da vida. A ansiedade instala-se como uma lente distorcida através da qual a pessoa passa a ver o mundo, mesmo quando a ameaça não é real ou visível. Por detrás da ansiedade está sempre um medo – o medo de falhar, de não ser aceite, de desiludir. São medos que muitas vezes surgem de experiências precoces, momentos em que éramos realmente mais vulneráveis e indefesos e pode acontecer ficarmos “presos” nesse estado de fragilidade. Fica a cabeça e fica o corpo!
A ansiedade (e todos os estados emocionais) manifestam-se no corpo, e está presente de várias formas: numa respiração curta e ofegante, nos ombros tensos e levantados, nas pernas rígidas e sempre prontas a “fugir”. Também muito comum são as dores de estômago, os intestinos desarranjados e outras perturbações digestivas. Estas reações são sinais de que o corpo está preso num estado de alerta constante. Já tive clientes que chegaram ao consultório ofegantes, com a voz mais aguda e acelerada. Se começarmos a sessão nesse estado, o tema que trazem tende a ser tratado de uma forma superficial, porque o corpo está em estado de alerta, não está disponível para nada mais a não ser reagir ao perigo. Começo por usar técnicas simples para aprofundar a respiração, ajustando a postura corporal para dar ao corpo uma sensação de apoio, presença e contacto com a realidade. São pequenos ajustes que ajudam a regular o sistema nervoso e alteram o forma como a pessoa está disponível para o resto da sessão.
Na psicoterapia Bodynamic, um dos recursos que podemos trabalhar é o centramento, bem como a capacidade de gerir a intensidade dos estados emocionais. Exploramos a respiração, incentivando a expansão da caixa torácica, e envolvemos músculos específicos, como os da barriga e da zona lombar, para que a pessoa sinta que consegue “segurar” e conter o que está a sentir. É uma experiência muito sensorial e ajuda a pessoa a reconectar-se com o corpo, criando uma base mais estável para lidar com as emoções.
Os resultados são visíveis ao longo do tempo, mas o processo é gradual. A ansiedade crónica, que está tão presente atualmente, não se resolve em poucas sessões. É necessário um trabalho de 6 meses a 1 ou 2 anos, dependendo do compromisso do cliente com o processo, para que as mudanças se tornem sustentáveis.
A ansiedade também pode ser uma janela para uma maior compreensão de nós mesmos. Ao olharmos para as suas causas e manifestações no corpo, conseguimos transformar essa experiência subjetiva num caminho de crescimento e equilíbrio. A psicoterapia corporal oferece as ferramentas para integrar mente e corpo, permitindo que as pessoas não só compreendam cognitivamente os seus medos, mas também os sintam e transformem de dentro para fora.